segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ayahuasca e a confusão do termo "droga"

O problema não está na palavra "droga" em si, mas em seu sentido pejorativo. Se as pessoas usassem essa palavra em seu sentido original (medicamento), não teria problema algum. Mas a palavra droga é usada para designar algo que não presta, perigoso, que deve ser banido e que somente desfruta da simpatia de pessoas más. A divisão entre drogas "lícitas" e "ilícitas" não resolve nada, já que por trás, bem escondido, continua ainda o sentido pejorativo.
Os leigos e ignorantes supôem que todas as substâncias que são designadas pelo nebuloso termo "drogas" são iguais, possuem os mesmos efeitos ou efeitos muitos semelhantes. Desconhecem que os efeitos das múltiplas substâncias existentes na natureza variam enormemente,tanto no nível físico quanto no psíquico, sendo em alguns casos absolutamente opostos. Para eles, o único e melhor estado de consciência é o da consciência ordinária, considerado o estado de mais alta lucidez, discernimento e sobriedade. Ao invés de estudar, preferem esconder-se no desconhecimento e recusam-se a colocar suas crenças à prova.
Os desconhecedores generalizam o uso do termo. Acreditam que todas as "drogas" sejam iguais e tenham efeitos semelhantes. Desconhecem que as diversas substâncias possuem efeitos distintos e até opostos. Todo psicoativo tem um efeito específico e distinto sobre a consciência. Porém, os ignorantes pensam que sabem o que é a consciência, mesmo que sejam incapazes de dar resposta satisfatória ao questionamento do filósofo Chalmers.
O errado é supor que todos os psicoativos sejam bons ou maus. Não há tal coisa. Alguns psicoativos podem ser extremamente perigosos ao homem, tanto física quanto espiritualmente. Outros podem ser sumamente úteis e até necessários. Então a generalização só pode ser coisa de quem não gosta de pensar com cuidado no assunto e não quer se aprofundar.
A palavra "droga" é polissêmica, tem um significado absolutamente impreciso e não dá conta da necessidade de classificar ordenadamente a questão das substâncias psicoativas. Seu significado sofreu muitas alterações ao longo da história, tendo se desvirtuado e perdido sua originalidade. As substâncias psicoativas requerem atualmente uma classificação precisa e livre de ambiguidades e confusões.
O uso do vulgar e impreciso do termo "droga" tem o efeito de atrapalhar o claro entendimento da problemática envolvendo as substâncias que atuam sobre o comportamento e sobre o psiquismo. Tal termo já deveria ter sido substituído por outro mais eficaz há muito tempo, mas não o foi por servir aos interesses daqueles que se beneficiam com a confusão.
Os inimigos da ayahuasca escamoteiam as diferenças entre ela e as drogas. Recusam-se a aprofundar tais diferenças, pois a confusão neste campo lhes é conveniente.