quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sobre ayahuasca, psicoses e alucinações

A diferença entre alucinações e visões espirituais autênticas

Aqueles que classificam a ayahuasca como alucinógena desconsideram totalmente as peculiaridades qualitativas da experiência mística que ela proporciona, principalmente no que se refere aos sentimentos evocados e ao grau de lucidez e discernimento do que se experimenta. Se estou em uma sala de aula, vejo entre os alunos a alma de um falecido e não a confundo com demais pessoas presentes, tendo plena lucidez de que se trata de "algo" do outro mundo, não posso qualificar tal experiência como alucinatória. Uma alucinação é a percepção (visual, tátil ou auditiva) de algo que não existe neste mundo material mas que o alucinado acredita a ele pertencer. A marca principal da alucinação é a confusão: o doente/viciado enxerga, por exemplo, um monstro dentro de um shopping center e acredita que o mesmo pertença à realidade física, que exista fisicamente, reage à esta percepção como se ela realmente pertencesse ao mundo material. Poderá gritar, alertar a todos, sair correndo, tentar salvar algumas pessoas etc. Isso é uma alucinação, a qual não só difere completamente das percepções espirituais, como lhes é antagônica. Em contrapartida, e do lado oposto, temos a verdadeira experiência espiritual, na qual o sujeito possui plena consciência de que aquilo que está percebendo pertence a outro mundo e não faz nenhuma confusão. Portanto, a percepção alucinatório é marcada pela confusão e a percepção espiritual é marcada pela lucidez, sendo ambas radicalmente opostas. É importante distinguir bem os dois casos pois é justamente este o ponto mais explorado pela mídia, que está se aproveitando da ignorância geral reinante a respeito para difundir a falsa idéia de que a ayahuasca é alucinógena. Ora, em uma alucinação o sujeito não está consciente da verdadeira natureza daquilo que está percebendo, fazendo sempre confusão. O simples fato de haver consciência já faz da percepção alterada algo não-alucinatório, pois uma alucinação é um delírio.
Além disso, os meios de comunicação também estão desviando o olhar do fato de que muitas vezes as percepções sob efeito da ayahuasca são coletivas. Cinco pessoas reunidas em um ritual poderão enxergar um mesmo jaguar, que executa os mesmos movimentos, tem o mesmo tamanho etc. Os opositores dirão que se trata de uma indução. Mas como eles explicariam a correspondência nas riquezas de detalhes, ainda mais quando tais detalhes estão desvinculados dos elementos presentes nos rituais?
Portanto, além de consciente, uma mesma percepção pode ser coletiva. Gostaria que os inimigos da ayahuasca nos apresentassem casos de alucinações coletivas conjuntas em que todos os detalhes são percebidos pelas pessoas de forma rigorosamente idêntica. Mostrem-me um caso desses e eu lhes mostrarei um caso de percepção espiritual verdadeira.
Vemos, assim, que somente leigos é que atribuem caráter alucinógeno à ayahuasca, por desconhecerem o que são estados de consciência e o que são estados místicos. Se, porventura, um estado alucinatório verdadeiro (no qual não há consciência e nem lucidez e sim confusão) ocorrer em uma sessão de ayahuasca, o mesmo será proveniente de um comprometimento prévio da saúde mental do sujeito e não deve ser atribuído à bebida.
Qualquer leigo percebe a diferença entre um louco que fala sozinho, grita e foge de inimigos imaginários e um místico, seja monge, iogue ou xamã, que relata suas percepões do outro mundo.

Distorção de experiências espirituais autênticas

O fato das experiências da ayahuasca serem verdadeiras não significa que o sujeito sempre possa assimilá-las corretamente e nem que todo mundo possa se meter com ela. Experienciar diretamente as realidades de outras dimensões não é algo que todo mundo possa aguentar ou entender.
Nas dimensões superiores da natureza (desta mesma natureza em que vivemos e que percebemos parcialmente, isto é, tridimensionalmente), desaparece progressivamente a distinção entre o eu e o outro e entre sujeito e objeto. Na sétima dimensão, não existe distinção entre um personagem histórico importante e o sujeito experienciante (por isso os religiosos dizem que no céu há comunhão total entre as almas). Uma pessoa despreparada, que repentinamente caia nessas dimensões, poderá vivenciar a si mesmo como um personagem histórico ao qual atribui muita importância e criar grandes confusões. Ao retornar, poderá acreditar que é fisicamente aquele personagem, desconsiderando que esta é uma realidade e aquela é outra. Em outras palavras, nos níveis superiores e profundos da psique, toda pessoa é Buda, Cristo ou qualquer outro herói mítico. No Tibete, para trazer um discípulo, que tenha ido aos céus durante a meditação, de volta à terra, os mestres costumam bater-lhe fortemente com as mãos. Caso contrário, ele terá dificuldades para viver aqui.
Quando uma pessoa despreparada ou incapacitada por debilidades mentais tem um experiência mística verdadeira, a distorce completamente. Em suma: a ayahuasca proporciona a experiência espiritual real e a pessoa se encarrega de distorcê-la. Os motivos pelo qual uma pessoa pode distorcer uma experiência espiritual podem ser resumidos como "fraqueza de entendimento" ou debilidade mental, seja ela oriunda do uso de drogas, de doenças congênitas, de doenças infecciosas, de traumas violentos etc.
Casos como o do assassino de Glauco demonstram, ou a total incapacidade do sujeito assimilar uma experiência mística verdadeira, ou um estado alucinatório provocado por drogas ou por doenças mentais. No primeiro caso, seria uma distorção de uma experiência espiritual verdadeira. No segundo caso, uma mera distorção da realidade física percebida. Em ambos os casos, a confusão não é provocada pela bebida em si, mas pela debilidade mental prévia da pessoa. É por isso que os xamãs não administram ayahuasca a doentes mentais e nem às pessoas que não se submetam às suas rigorosas disciplinas.

Ayahuasca e os paradigmas materialista e religioso

A alucinação se distingue da visão espiritual pelo estado de consciência.
Um estado alucinatório corresponde a um estado psicótico e se distingue de um estado místico. Nenhum estudioso materialista, psiquiatra ou não, esta apto a dar explicações sobre os estados místicos, uma vez que os desconhece em sua essência, chegando mesmo ao ponto de rotulá-los como inerentemente patológicos. Ao considerar as visões espirituais 'alucinações', os materialistas e ateus estão afirmando a inexistência de outras dimensões e de seus respectivos universos paralelos. Estão, portanto, afirmando serem todas as visões espirituais mentirosas. E esse o primeiro motivo pelo qual não deveriam meter seus narizes, opinando sobre a ayahuasca: eles não sabem do que estão falando.
Em segundo lugar, o estado de consciência, durante a experiência mística sob efeito da ayahuasca, permite ao experienciante diferenciar o que pertence ao mundo espiritual daquilo que pertence ao mundo físico-material, discernimento que não se verifica nos estados alucinatórios resultantes das drogas ou de doenças mentais. Quem não conhece a diferença entre uma experiência espiritual verdadeira (consciente) e os efeitos alucinatórios de uma droga ou psicose não possui autoridade alguma para afirmar se um extrato vegetal e alucinógeno e nem, muito menos, deveria ser consultado por autoridades que quisessem deliberar a respeito.
Justamente por proporcionar uma experiência consciente, em que o sujeito consegue discernir o teor extra-fisico do que percebe, e que a ayahuasca deveria ser classificada como algo à parte das drogas. E também pelo mesmo motivo que os especialistas em drogas pouco sabem sobre esta experiência. A experiência espiritual desconcerta quem tenta entendê-la sob uma perspectiva falseante. Tentar entender, sob a perspectiva das drogas, algo que não e uma droga e sim uma substancia misteriosa, e falsear a analise desde o inicio.
A ayahuasca desafia o paradigma materialista, na medida que desencadeia experiências parapsicológicas e ativa percepções extra-sensoriais, mas desagrada também o conservadorismo religioso, uma vez que da acesso a experiências diretas com o mundo espiritual, dispensando a necessidade de crer sem ver. Desafia também os grupos que não querem que uma visão de amor e respeito pela natureza e pelas culturas indígenas se difunda no pais. São essas as forcas que estão por trás da campanha difamatória orquestrada pela mídia.